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quarta-feira, 13 de março de 2013

A Mediunidade através da História

01. Através da História, a mediunidade manifestou-se com características concordes ao momento evolutivo da Humanidade. Assim, tivemos os oráculos na Grécia Antiga, o profetismo em Israel, os fenômenos no século XIX, até a mediunidade embasada em Kardec, que, no Brasil, desenvolveu particularidades específicas. No momento presente, notamos a diminuição da quantidade de médiuns, bem como da qualidade mediúnica. Estaria a mediunidade entrando em uma nova fase? A mediunidade humana estaria cedendo terreno para a transcomunicação instrumental? Qual o futuro da mediunidade?

DF. Meus queridos irmãos: que o Senhor Jesus, o excelente médium de Deus, nos abençoe e nos dê a Sua paz. Allan Kardec, o ínclito Codificador da Doutrina Espírita, fazendo uma análise da situação que o Espiritismo deveria enfrentar, estabeleceu em O Livro dos Médiuns, a necessidade do exercício da faculdade mediúnica de maneira consciente. Equivale dizer, de maneira lúcida, responsável. Até Allan Kardec, a mediunidade estava envolta em vários mitos, desde a condição divinatória até as ex-crescências psicopatológicas da Idade Média, quando os médiuns eram colocados diante das Cortes para servir de instrumento ao ridículo e a posteriori, nas Universidades para análise das psicopatologias que atormentavam a criatura humana e cuja  gênese era desconhecida.

 Depois de Allan Kardec, o emérito professor Charles Richet, fazendo uma panorâmica dos fenômenos metapsiquistas da Humanidade, estabeleceu que a sociedade passou por quatro períodos distintos: o primeiro deles foi aquele que abrange todas as comunicações mediúnicas nas áreas da Mitologia, na área da historiografia, nos processos sociológicos, até aproximadamente o século XVIII, quando Anton Franz Mesmer pôde identificar uma inter-relação fluídica entre a criatura e os metais, entre as criaturas e os astros. Portanto, aproximadamente por volta de 1775, o médico vienense deu início ao estudo da paranormalidade humana sob outra designação, na caracterização do que mais tarde seria denominado Mesmerismo.

Esse segundo período, conforme o professor Charles Richet, o mesmérico, vai até o ano de 1848, com a fenomenologia que eclodiu a 31 de março, em especial na cidadezinha de Hydesville, no condado de Rochester, em Nova York, quando as irmãs Fox se transformaram em uma espécie de telégrafo para as comunicações lúcidas com o mundo espiritual. Richet estabeleceu,  a partir dali, o chamado período espirítico, em que as comunicações seriam agora abarcadas pela Doutrina Espírita, que lhes dá uma coerência filosófica e abre espaço para uma estrutura de investigação científica.  Apresenta ainda, um quarto período, que denomina como Científico e estabelece a data de, aproximadamente 1872, embora, para sermos coerentes, a realidade em que os fenômenos de natureza psíquica, como foram denominados no início, têm a sua data básica  a partir de 1860, com as investigações que se realizaram na Europa.

Mas Richet prefere prorrogar um pouco mais, graças ao advento da Metapsíquica, doutrina criada por ele e apoiada por William Crookes e Cesare Lombroso. Afirma o Dr. Hernani Guimarães Andrade, em um belo artigo, que Richet acalentava uma  proposta muito personalista, estabelecendo um quinto período, que seria o das investigações por ele realizadas na Vila Carmen, em Argel, as experiências com Beni Boa através da médium Marthe Béraud, assim como outros sensitivos.

Allan Kardec, no entanto, considera a realidade da mediunidade a partir da última terça-feira de maio de 1855, quando, atendendo à solicitação de amigos, por mais de uma vez, foi à residência da senhora Plainemaison e  ali observou o fenômeno, primeiro da Sra. Roger, em estado de sonambulismo,  em uma demonstração cataléptica em que ela foi colocada sobre o espaldar de duas cadeiras com o corpo hígido e ele observou pela primeira vez as manifestações através das mesas falantes ou girantes. Para nós, espíritas, esse é o marco definidor da nova era dos fenômenos paranormais.

É, no entanto, a partir de 1861, quando saiu publicado O Livro dos Médiuns, que a mediunidade adquire a cidadania científica e ética de comportamento moral.

 O Livro dos Médiuns é o maior tratado de paranormologia de que jamais a humanidade tomou conhecimento.

  Com o advento das doutrinas psíquicas, parapsicológicas, psicotrônicas, psicobiofísicas e da transcomunicação instrumental, vemos o grande esforço dos estudiosos que não lograram adir nada àquilo que Allan Kardec estabelecera.

 O próprio Richet, quando foi realizar o estudo dos  fenômenos da metapsíquica, dividiu-os em duas ordens: subjetivos e objetivos. Neste ponto, ele está repetindo Allan Kardec, quando os definiu como intelectuais e de efeitos físicos.

 Mais tarde, a Parapsicologia, desejando inovar, utilizou-se de algumas  expressões gregas e propôs os termos psigama e psikapa, para os fenômenos inteligentes e os físicos, respectivamente, novamente repetindo Allan Kardec.

Quando adicionou os fenômenos psitheta ou aqueles que fazem pressupor a interferência de seres desencarnados na mecânica parapsicológica, também está repetindo Allan Kardec, que fez uma distinção na ordem daqueles que procedem do próprio médium e aqueloutros que têm origem extra-física, produzidos por seres de outra dimensão.

 Daí, a mediunidade sempre esteve presente na sociedade, porque não é propriedade da Doutrina Espírita, mas uma certa tendência do organismo para captar ondas especiais que são decodificadas pelo sistema endócrino do médium e do seu sistema nervoso central.

A mediunidade, segundo Allan Kardec, é uma certa predisposição orgânica, é a faculdade de que dispõe o organismo que a reveste  de células. Essa faculdade é do Espírito, a fim de permitir à criatura humana entrar em contato com o mundo extra-físico.

É natural que, no momento que irrompe, para chamar atenção, os fenômenos se tornem ostensivos e por isso mesmo, o século XIX foi muito rico de médiuns de efeitos físicos, de efeitos intelectuais, de fenômenos de ectoplasmia. Mas, à medida que a mediunidade deixou de ser simplesmente um fenômeno para chamar a atenção, como veremos daqui a pouco, passou a ter uma ética de comportamento, e as comunicações mais explosivas cederam lugar às mais técnicas, mais racionais, com objetivos definidos, quais preparar o advento da Era Nova. Não obstante, periodicamente aparecem fenômenos ostensivos para chamar a atenção, qual ocorreu com a mediunidade exuberante de José Arigó, de Mirabelli, no Brasil, para citarmos aqueles que se tornaram mais conhecidos, como também o admirável médium Francisco Peixoto Lins, identificado como Peixotinho, que produzia materializações luminosas e hors-concours, a mediunidade de Francisco Cândido Xavier, pela sua qualidade de natureza superior, tornando-o portador  do mediunato, o verdadeiro instrumento do mundo espiritual superior.

Não é de estranhar que haja diminuído a eclosão dos fenômenos que chamam a atenção, porquanto, esse é sempre secundário. O importante é a Doutrina.

 O  Espírito Vianna de Carvalho, escreveu por nossas mãos, oportunamente, há 30 anos, que a mediunidade é uma moldura; a mensagem da Doutrina  é o quadro,  a tela. A mediunidade é a orla do caminho, a Doutrina é a estrada por onde devemos peregrinar. A mediunidade foi a porta da informação; o Espiritismo é a via de acesso ao Reino dos Céus.

 Apresentado o mapa do tesouro à nós, cabe-nos seguir a rota para podermos encontrá-lo.

Dessa forma, a mediunidade, conforme a pergunta, vem entrando em uma fase de menos estridor, de menos perturbação. Caracterizados os fenômenos mediúnicos, vários transtornos psicológicos, manifestações histéricas, esquizóides, nevropatas, que  levaram os estudiosos da neurofisiologia a confundirem a mediunidade com psicopatologias, já não são assim encarados, embora ainda seja tida como fator de desordem comportamental e de desequilíbrio mental.

Alguns  médiuns, ainda hoje, porque ignoram a proposta da Doutrina Espírita e a metodologia da educação mediúnica, exarada no terceiro capítulo de O Livro dos Médiuns, preferindo tornarem-se pessoas-fenômenos – e Kardec, com propriedade, asseverou que a mediunidade nunca subiria ao palco das feiras para entretenimento das massas, dando-lhe, portanto, dignidade – preferem chamar a atenção por mecanismos patológicos, por transtornos psicológicos, por necessidade de valorização, por exaltação do ego.

 Não é de estranhar-se, portanto, que em muitas Instituições, nas quais a Doutrina Espírita não é considerada, as comunicações mediúnicas sejam ruidosas, através de golpes, de gritos, de estertores,  que são nada mais, nada menos do que desequilíbrios nervosos, nada tendo a ver com o fenômeno mediúnico.

A mediunidade humana não está cedendo terreno à transcomunicação instrumental, digamo-lo de uma vez por todas. Quando hoje os aficionados respeitáveis da transcomunicação instrumental dizem que estamos em uma outra Era, é de lamentar que ignorem a história do Espiritismo, porque o primeiro transcomunicador instrumental foi Allan Kardec. Ele se utilizou de mesas que se agitavam, de ardósias que, coladas, apresentavam pneumatografias – a escrita direta dentro delas; da cestinha de bico que possibilitava as comunicações. Estando-se hoje na Era Eletrônica, os instrumentos mais sofisticados chamam-nos a  atenção para o fenômeno que agora se expressa mediante os recursos que a tecnologia nos brinda para facilitar-nos a comunicação de maneira inteligível.

Quando o próprio Kardec examinou as primeiras comunicações, ocorreu-lhe que elas deveriam ser manifestações elétricas, porque  se estava ainda muito longe do conhecimento da eletricidade. A eletricidade mal se desenhava na área da Física. Ou poderia ser um fenômeno de  natureza magnética, e foi por observar, por estudar, por perquirir, que ele se deu conta de que se tratava de uma aptidão nervosa do organismo humano.

O futuro da mediunidade é demitizar os tabus, tornar os médiuns considerados pessoas perfeitamente equilibradas, mas paranormais. Charles Richet, a quem nos referimos, denominou-a como sexto sentido, e os modernos parapsicólogos, hoje ultrapassados, asseveram que no futuro todos seremos indivíduos psi, portadores da peculiaridade que já o possuímos. Mesmo nessa questão não disseram nada de novo, porque Kardec asseverou que somos todos mais ou menos médiuns, que possuímos essa aptidão, qual a de cantar – a dificuldade é cantar bem. Da mesma forma possuímos a de natureza mediúnica; o problema é exercê-la com elevação.

O futuro da mediunidade é, portanto, preparar o homem para a renovação social, quando nos tornaremos médiuns da vida, sintonizando com o mundo espiritual, em regime de perfeita naturalidade, confirmando que a morte continue desmoralizada e a vida permaneça em triunfo.

 

Entrevista  ao Jornal Espirita de Salvador